sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Exército reforça segurança na Rocinha após dias seguidos de tiroteios

AFP / Mauro PIMENTELPolicial participa de operação na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro de 2017
Quase mil soldados foram mobilizados nesta sexta-feira para reforçar a segurança do entorno da Rocinha, maior favela do Brasil, depois de cinco dias de intensos confrontos entre policiais e traficantes.
Os tiroteios, que começaram no domingo com um aparente conflito entre líderes de uma mesma facção, se intensificaram na manhã desta sexta nesta comunidade de cerca de 70.000 moradores.
Imagens amadoras divulgadas pela imprensa mostraram homens armados com fuzis e pistolas atirando nas ruelas da Rocinha.
A estrada Lagoa-Barra, que fica junto à comunidade e é a principal via de ligação entre a Zona Sul e a Zona Oeste da cidade, foi fechada desde a manhã por dezenas de policiais fortemente armados. À tarde, tanques do Exército começaram a chegar ao local, constatou a AFP.
A polícia relatou que um grupo de menores de idade incendiou um ônibus perto de uma passarela aos pés da Rocinha, traficantes jogaram uma granada, que não explodiu, e atacaram a base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, provocando uma troca de tiros que deixou um morador ferido.
"Desde a semana passada estamos com bastante medo. Subimos rápido, ou esperamos para ir com amigos e depois vamos direto pra casa. Ninguém fica na rua, é um terror total", relatou à AFP James, um morador da comunidade.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou à noite que a "Rocinha está pacificada. Aqueles tiroteios que foram vistos durante a manhã já não estão ocorrendo", acrescentou, em entrevista à Rede Globo.
O secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, disse que a operação continuará "por tempo indeterminado", mas garantiu que os moradores podem retornar à vida normal, seguindo as orientações dos policiais e militares.
- Em pleno Rock in Rio -
Cenas dignas de guerra voltaram a mostrar a onda de insegurança que atinge o Rio. Ocorrem também em um momento de muita afluência de turistas, que visitam a cidade para ir ao Rock in Rio.
AFP / Mauro PIMENTELPoliciais e jornalistas se protegem em meio a operação na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro de 2017
A autoestrada Lagoa-Barra leva ao Parque Olímpico, onde acontece o festival, que abriu normalmente as portas em seu quinto dia de shows, hoje com a presença de Bon Jovi.
A Rocinha pouco afeta o Rock in Rio, ou talvez mais do que se imagine.
Um dos bailarinos que se apresentou no show de Alicia Keys no domingo, Pablinho Fantástico, não conseguiu voltar para casa na comunidade após o espetáculo por conta dos tiroteios.
Na quarta-feira, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, reconheceu que havia ordenado que a polícia não invadisse a Rocinha para evitar expor as milhares de pessoas que poderiam usar a estrada.
- Guerra entre ex-parceiros -
Controlada pela facção Amigos dos Amigos (ADA), nos últimos meses a violência aumentou na Rocinha, assim como em outras comunidades que estavam oficialmente "pacificadas".
Com uma base da UPP desde 2012 na comunidade, a situação fugiu do controle no domingo, quando um grupo de traficantes invadiu o morro e deixou pelo menos um morto e três feridos.
"É uma guerra entre dois bandidos que foram aliados e agora, por quererem monopolizar o mercado das drogas, começaram uma guerra", disse nesta sexta-feira o delegado de polícia do batalhão da Rocinha, Antônio Ricardo Lima.
A princípio o confronto opõe o ex-chefe do tráfico desta comunidade, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011, que não estaria satisfeito com seu substituto, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157.
- A guerra contra o tráfico 'não funciona' -
A mobilização militar inclui 950 homens e "10 blindados".
O ministro da Defesa comparou a situação do Rio com a de alguém que sofre de doenças muito graves.
O paciente "tem fraturas, hemorragia interna e também uma cirrose. Você vai segurar a hemorragia ou a cirrose? A cirrose é estrutural, a hemorragia é a urgência", disse Jungmann.
No fim de julho, o governo mobilizou 8.500 militares para o Rio. Os soldados participaram de algumas operações contra traficantes em comunidades, mas depois diminuíram as suas ações.
Diversos analistas asseguram que a "guerra contra o tráfico" não funciona, como demonstram os mais de 100 policiais mortos no Rio ao longo do ano.
"Esses grupos nunca serão derrotados pelo uso da força bruta, eles ganham da polícia nisso. Nós vamos continuar insistindo? Não acredito que será possível ter nenhum tipo de vitória em relação à violência se não for pela Inteligência e investigação", disse à AFP Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.

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