quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Cyril Ramaphosa assume presidência da África do Sul

POOL/AFP / MIKE HUTCHINGSCyril Ramaphosa no Parlamento, em 15 de fevereiro de 2018
O ex-sindicalista e empresário Cyril Ramaphosa assumiu oficialmente nesta quinta-feira (15) a presidência da África do Sul após a renúncia de Jacob Zuma, afetado por escândalos de corrupção e rejeitado por seu próprio partido.
Único candidato na disputa, o líder do Congresso Nacional Africano (CNA) foi eleito chefe de Estado pelo Parlamento, sem surpresa e sem a necessidade de uma votação formal.
"Declaro o honorável Cyril Ramaphosa oficialmente eleito presidente da República da África do Sul", declarou o presidente do Tribunal Constitucional, Mogoeng Mogoeng.
Logo após ser empossado, o novo chefe de Estado se comprometeu a lutar contra a corrupção.
"Os problemas de corrupção, ligados à necessidade de recuperar as empresas públicas (...), fazem parte de nossas prioridades, são os problemas que iremos atacar", declarou diante dos deputados.
"Vou trabalhar duro para tentar não decepcionar o povo sul-africano", prometeu.
Depois de uma longa batalha contra Ramaphosa, Jacob Zuma finalmente se rendeu na quarta-feira à noite, sob a ameaça iminente de uma moção de desconfiança por parte de seu partido.
"Devo aceitar que meu partido e meus compatriotas querem que eu vá embora", disse Zuma, apesar "de não concordar com a decisão da liderança da minha organização".
Desde que assumiu o CNA em dezembro, Ramaphosa tem tentado fazer Zuma deixar o poder de forma ordenada, convencido de que sua permanência levaria a sigla para uma esmagadora derrota nas eleições gerais de 2019.
Enfrentou a recusa do chefe de Estado, cujo mandato expiraria no próximo ano, até que o CNA finalmente decidiu ordenar sua saída na terça-feira (13).
- 'Não concordo' -
"Não concordo, porque não há provas de que fiz qualquer coisa errada", defendeu-se, com amargor.
Sua capitulação foi saudada com alívio quase unânime em uma África do Sul esgotada por um fim de reinado marcado por instabilidade política, corrupção generalizada e dificuldades econômicas persistentes.
"Este é o fim de um período em que a mais alta função do país foi desviada para o saque generalizado dos cofres do país", afirmou a Fundação Nelson Mandela.
Esta manhã, os mercados reagiam positivamente à partida de Jacob Zuma. A Bolsa de Joanesburgo subia 2,7%, e a moeda nacional, o rand, atingia seu nível mais alto em relação ao dólar em três anos (11,65 R por US$ 1).
A eleição de Cyril Ramaphosa "marca o fim de um período de incerteza política e econômica que pesou fortemente sobre o crescimento da África do Sul", apontou o economista Raymond Parsons, da Northwest University.
A oposição também aplaudiu o anúncio da saída de Zuma.
"Toda a nação tem sido vítima há mais de dez anos de um delinquente e de um impostor (...) Ele vai para a lixeira da História", declarou Julius Malema, líder dos Combatentes para a Liberdade Econômica (EFF, esquerda radical).
- 'Verdadeira renovação' -
"Nós não temos um problema com Jacob Zuma, temos um problema com o CNA", acrescentou o chefe da Aliança Democrática (AD), Mmusi Maimane, pedindo novamente a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas "para uma verdadeira renovação" do país.
O AD e o EFF infligiram um grave revés ao CNA nas eleições locais de 2016 e esperam privá-lo, no próximo ano, da maioria absoluta que mantém desde 1994.
Nas últimas semanas, Ramaphosa prometeu virar rapidamente a "página Zuma", assegurando a quem quiser ouvir que a África do Sul entrou em uma "nova era".
Sua estrada será longa e difícil.
"Ele tem a enorme tarefa de nos fazer esquecer o balanço de seu antecessor e colocar a África do Sul de volta ao caminho da unidade e da renovação", resumiu a fundação criada pelo ex-presidente Frederik de Klerk.
"O czar caiu, o caminho está livre, Ramaphosa!", completou a instituição.
Como símbolo da mudança prometida, a polícia realizou uma busca na quarta-feira na casa luxuosa da família Gupta, no centro da maioria dos escândalos envolvendo o ex-presidente Zuma.
As oito pessoas presas durante a operação compareceram nesta quinta-feira diante de um tribunal em Bloomfontein (ou Mangaung), no centro do país.

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