quarta-feira, 18 de abril de 2018

Parlamento de Cuba inicia processo para eleger sucessor de Raúl Castro

AFP/Arquivos / Adalberto ROQUEImagem de 20 de dezembro de 1999 de Fidel Castro e seu irmão Raúl Castro
A Assembleia Nacional de Cuba iniciou nesta quarta-feira (18) uma sessão de dois dias para eleger o novo presidente da ilha, uma transição histórica depois de seis décadas de poder dos irmãos Castro.
Aos 86 anos, Raúl Castro, sucessor de seu irmão Fidel no poder, vai se retirar da presidência de Cuba e será substituído por um representante da nova geração. Presume-se que o primeiro vice-presidente Miguel Díaz-Canel será o eleito.
Inicialmente programada para a quinta-feira, dia 19, a sessão plenária de posse da nova Assembleia ou Parlamento - cujos 605 deputados foram eleitos em março - começou nesta quarta-feira às 09H00 (10H00 de Brasília).
O encontro acontece a portas fechadas e a programação não foi divulgada. No entanto, a nova Assembleia deverá dar por iniciada a nova legislatura e eleger sua mesa diretora.
Depois deste procedimento, os deputados vão eleger os 31 membros do Conselho de Estado, que será liderado pelo sucessor de Raúl Castro.
Se a Assembleia resolver todos os trâmites com rapidez, a votação poderá acontecer ainda hoje. Mas a identidade do novo presidente só deverá ser revelada na quinta.
A data é simbólica: corresponde ao 57º aniversário da vitória na Baía dos Porcos, quando as tropas anticastristas, preparadas e financiadas pelos Estados Unidos, foram derrotadas em 1961.
Após o triunfo da revolução em 1959 e a eleição de Fidel Castro como presidente em 1976, Cuba vivenciou uma única transição real. Foi em 2006, quando Fidel, doente, passou o comando do país ao irmão mais novo.
Fidel Castro faleceu no final de 2016 e agora é Raúl, de 86 anos, que cederá seu assento a um representante da nova geração.
Se não houver surpresas, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, um civil de 57 naos e número dois do governo desde 2013, assumirá a responsabilidade.
Há anos, Díaz-Canel, nascido depois da revolução, representa o governo no extreior e suas aparições na imprensa têm sido cada vez mais frequentes.
Se eleito, este engenheiro eletrônico terá que fazer valer sua autoridade e atualizar o modelo econômico da ilha.
- Tarefa difícil -
Trata-se de uma tarefa difícil para este militante das fileiras do Partido Comunista de Cuba, de cabelo grisalho.
"Um fator a considerar é se (Díaz-Canel) pode resistir à pressão deste cargo", considerou Paul Webster Hare, professor de Relações Internacionais em Boston, nos Estados Unidos, e ex-embaixador britânico em Cuba.
Considerou que Fidel e Raúl nunca precisaram justificar sua posição pois venceram a revolução e ninguém questionou seu direito de liderarem.
"Mas não criaram um modelo democrático. Essa é a principal razão pela qual Díaz-Canel enfrenta uma tarefa difícil", acrescentou.
Pela primeira vez em décadas, o presidente não será um membro histórico da revolução de 1959, não vestirá o uniforme verde olive nem será líder do governante Partido Comunista de Cuba (PCC), único autorizado a existir na ilha.
Mas poderá suprir seu déficit de legitimidade histórica com o apoio de Raúl Castro, que manterá a liderança do PCC até 2021. Nesse cargo, terá que mobilizar a velha guarda, percebida em sua maioria como contrária às mudanças mais ambiciosas.
O nível de responsabilidade e a margem de manobra que terá como líder do novo Conselho de Estado será um sinal da vontade de reforma que empreenderá nesta nova era.
Para atuar deverá levar em conta os limites traçados pelo PCC e o Parlamento, que definem as orientações políticas e econômicas até 2030.
"O governo que vamos eleger o será pelo povo. O povo vai participar nas decisões", disse Díaz-Canel depois de votar nas últimas eleições legislativas em sua cidade, Villa Clara (centro).
Segundo especialistas, o futuro presidente deverá aplicar reformas para reativar uma economia que cresceu 1,6% em 2017, altamente dependente das importações e da ajuda de sua hoje debilitada aliada Venezuela.
A tarefa mais urgente é a unificação das duas moedas nacionais que circulam no mercado, além da eliminação de taxas de câmbio preferenciais para empresas estatais - que são maioria na ilha - uma situação que gera distorções na economia.

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